É típico ouvir que a Páscoa é acerca do mito de Jesus Cristo, o dia em que ele morreu crucificado pelos pecados da humanidade. Aos mais pequenos, contam sobre o Coelho da Páscoa, que distribui ovos coloridos para encontrarem. No entanto, há muito mais na Páscoa do que aquilo que aprendemos.
É pertinente, antes de falar das ligações entra a Páscoa e o paganismo, dizer que existe alguma nuance nesta discussão sobre origens e tradições "roubadas" pelo cristianismo ao paganismo. É comum fazer da narrativa que os "cristãos maus" imitaram todas as tradições do paganismo e que portanto as tradições cristãs não devem ser valorizadas. Não só esta narrativa é intolerante (que por muito que existam pessoas cristãs intolerantes para com pagãos, não significa que o devamos ser), como especialmente acerca da Páscoa é uma simplificação brusca do tema. A Páscoa corresponde muito mais diretamente à celebração Judaica Pesach do que às celebrações pagãs. O cristianismo tem temas semelhantes a muitas histórias pagãs, mas se isso se trata de uma assimilação mesmo ou simplesmente utilização coincidente de temas mitológicos comuns, não podemos ter a certeza. No entanto, a forma como a Páscoa é celebrada no seio popular, como os ovos e o coelho, já tem uma origem mais forte pagã.
Eostre e a sua lebre fiel
O Coelho e os Ovos da Páscoa é uma história já antiga. Vem de Eostre, Deusa Anglo-saxónica da primavera. Segundo o mito, esta Deusa tinha uma afinidade especial por crianças, e no dia antes do começo do inverno, transformou uma andorinha numa lebre para as alegrar. A lebre pediu à Deusa que a transformasse de volta, pois gostava de ser uma andorinha. No entanto, o inverno já tinha chegado, retirando os poderes da Deusa. A Deusa cuidou da lebre o inverno todo, aguardando pacientemente pelo próximo dia de primavera. As primeiras flores nasceram, e com elas o poder de Eostre. As crianças voltaram para seu lado, para a verem transformar a lebre numa andorinha de novo. A Deusa assim o fez, e como agradecimento, a andorinha colocou os seus ovos para as crianças os encontrarem durante toda a estação.
Outra versão da história mais moderna conta que Eostre se atrasou a trazer a primavera, e por isto, a terra sofria. Ao encontrar uma andorinha congelada pelo frio do inverno, chorou pela sua vida, transformando-a na lebre mais branca de todas as lebres, tão branca como a neve. Agora sem a habilidade de voar e tendo a sua vida salva pela Deusa, a pequena lebre dedicou a sua vida a Eostre, que a chamou de Lepus. Diz-se que a lebre branca continuou com a habilidade de por ovos e assim o fazia para alegrar as crianças. No entanto, Lepus continuava com vontade de regressar ao céu e ser livre como era como andorinha. Ao sentir a tristeza da sua companheira, Eostre atirou-a para o céu, onde esta permanece como a constelação da lebre até chegar a primavera, durante a qual volta à terra para por os seus ovos que alimentam as crianças.
Deuses renascidos
Agora entrando a semelhanças narrativas entre o mito do renascimento de Jesus Cristo e mitos cristãos, a comparação mais direta que temos é a com Inanna. Isto porque Innana, tal como Jesus, foi morta e pendurada, sendo que Ela foi pendurada por um gancho em vez de numa cruz. Três dias depois, renasceu, tal como Jesus. Seriam estes dois fatores específicos que são comuns entre ambas as histórias, e em que possivelmente o mito cristão se poderá ter inspirado.
No entanto, a história de Inanna só tem essas duas semelhanças à de Jesus. Inanna é uma Deusa da Mesopotâmia associada ao amor e fertilidade, sendo uma das divindades sumérias mais venerada. Segundo o mito, Inanna era uma Deusa algo arrogante, e teria tentado tomar o submundo para si, que era o domínio da sua irmã. Como castigo, os Deuses reuniram-se e castigaram-na matando-a e pendurando-a por um gancho no submundo para sempre. Um dos Deuses, querendo que Inanna regresse, envia dois seres sem sexo para a irem buscar ao submundo. Demoram três dias a fazer a sua viagem e deixam para trás um substituto, o marido de Inanna. Esta morte de renascimento de Inanna é o que marca a mudança das estações.
Ligada a esta mudança das estações está também a Deusa Persefone da mitologia Grega, raptada por Hades para ser Rainha do submundo com ele, o que causou Demeter, a sua mãe, Deusa da Fertilidade, a tornar o mundo frio. Persefone ficou de passar 6 meses no submundo com Hades e 6 meses na superfície com a sua mãe, dando origem às estações.
A história de Jesus Cristo pode ser interpretada de forma semelhante, em que o seu renascimento representa o sol a voltar. Tanto a mitologia pagã como a cristã não devem ser levadas de forma literal, mas sim como mensagens e lições do divino, e as histórias que encontramos nesta altura apelam todas ao mesmo: a celebração da vida.
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