Sintra viu pela primeira vez bandeiras arco-Ãris e gritos por direitos. A primeira marcha de muitas, com diversidade e inclusividade.
Já pintam caras com a bandeira LGBT e praticam os cânticos - é na Escola Visconde de Juromenha às 18h que se juntam jovens da comunidade, ativistas e apoiantes, prontos para marchar e fazer história em Sintra. A marcha foi organizada por um grupo de estudantes em conjunto com a sua professora de teatro, Yolanda, da ParteJ e a SintraFriendly. Vê-se todo o tipo de bandeiras: gay, lésbica, bissexual, transgénero, não-binária, assexual, intersexo, e muitas mais voam e são pintadas em bochechas e braços. Está o grupo de estudantes atrás de uma mesa a dar bandeiras aos que querem marchar, muitos na fila que nunca tiveram uma bandeira para demonstrar orgulho em quem são antes.
"Percebi que eles estavam mais interessados em estar reunidos em comunidade e que era um espaço seguro aquela aula" diz Yolanda, professora de teatro e integrante da ParteJ, um projeto de arte para empoderar jovens. A professora apercebeu-se que os jovens na sua aula eram quase todos parte da comunidade LGBTQ+ e com sede de representação em Sintra, então ajudou-os a fazer a primeira semana de Orgulho LGBTQ+.
Bia é um dos jovens estudantes que através deste evento, teve oportunidade de dizer sem vergonha quem é e ver muitos outros que são como ela. "Agora consigo dizer que eu gosto de meninas também", sorri.
Colocar Sintra no mapa
"Tudo o que sejam sÃtios descentralizados, que são sÃtios em que tendencialmente as pessoas acham 'ah não há aqui ninguém LGBT', claro que há alguém LGBT!" explica Beatriz Aranho da Rede Ex Aequo. Expressa o quão importante são eventos como este em todas as localidades para mostrar que existem pessoas LGBT em todo o lado e é algo natural. Bia, apesar de mais jovem, já ecoa esta ideia: "Temos de aproveitar este mês para deixar toda a gente saber que nós estamos aqui, que nós existimos, nós somos válidos."
"Fazer esta marcha é um sinal de grande sucesso, vamos por Sintra no mapa de cidades que fazem marcha do Orgulho no nosso paÃs" diz Pedro Silva, do coletivo SintraFriendly, emocionado. Esta ideia que "colocar Sintra no mapa" é uma muito expressada - as pessoas prontas a marchar não têm apenas paixão à luta dos Direitos LGBTQ+, mas também ao local onde residem, onde cresceram. Yolanda conclui esta ideia: "Vamos colocar Sintra no mapa da representatividade, da inclusão e da diversidade."
Fizeram-se ouvir nas ruas da Tapada das Mercês, gritar por direitos iguais, gritar contra a homofobia. As vozes de aproximadamente 80 jovens a pedir um futuro melhor. No fim da marcha, contam histórias do que já passaram, de amigos que não conseguiram vir e de esperanças por um Portugal igual.
Ser LGBT em Sintra
Os jovens da escola a marchar vão dos 14 até aos 17, e até crianças vieram apoiar os seus colegas. Todos eles ainda no inÃcio da sua vida, mas já com histórias de homofobia para contar. Bia acaba a marcha a chorar por um amigo trans que não pode comparecer por ter pais transfóbicos, por amigos que se suicidaram por sofrerem homofobia e transfobia, e agradece aos que marcharam por aqueles que não conseguiram vir marchar.
"É pelo facto de vivermos numa sociedade patriarcal heteronormativa cisgénero, fazendo com que todas as outras minorias da sociedade vivam à margem da sociedade, em que o assumir-se, o ter uma simples bandeira, ou a forma de vestir ou a forma de agir é o suficiente para sermos alvo de bullying, de opressão, discriminação" explica Pedro Silva indignado. Segura um cartaz que diz "Não basta assumir, é preciso gritar!", e na página SintraFriendly expõe tanto situações de homofobia como dá voz à comunidade LGBT de Sintra e cria um espaço seguro para a mesma.
Adultos contam as suas histórias também, e expressam o seu orgulho pelos jovens que estão a criar um espaço seguro que eles a crescer não tiveram para si. Pais e mães apoiantes abraçam os filhos, e aqueles que não têm famÃlia que os apoie, são abraçados também por uma famÃlia de pessoas LGBTQ+ encontrada, pinturas da bandeira arco-Ãris a unir-se com cada abraço.
Esta primeira marcha do Orgulho LGBTQ+ acaba com o eco dos gritos e histórias pelas ruas de Sintra, pessoas nas janelas das suas casas a olhar para o seu concelho agora colorido por uma comunidade que se abraça e apoia para juntos levarem Sintra a um futuro melhor.
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